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A China é contrária ao partido do favorito nas eleições, que é independentista, ou seja, quer abandonar a ideia de uma só China. Xi Jinping já fez algumas ameaças veladas de como pode haver desfechos diferentes de acordo com o resultado da votação. EUA mantêm “ambiguidade estratégica”. Do Vale do Silício a Taiwan: veja a evolução tecnológica mundial da produção dos chips
Os eleitores de Taiwan começaram na noite de sexta (11), manhã deste sábado no fuso horário local, a escolher o novo presidente —e o resultado tem importância bem maior do que a da pequena nação, localizada a apenas 180 quilômetros da costa da China.
Taiwan, o epicentro de uma crise entre os Estados Unidos e a China, é um dos territórios mais indefinidos do atual cenário geopolítico mundial —e um dos mais estratégicos para potências mundiais.
Para a China, trata-se de uma província rebelde que segue fazendo parte de seu território. Já para o governo de Taiwan, a ilha é um estado independente, gerido por uma Constituição própria, e por décadas foi considerada o próprio governo chinês, no exílio. Isso porque os atuais governantes de Taiwan foram os inimigos derrotados na década de 1940 pelos comunistas que governam atualmente a China.
A votação tem potencial para deteriorar as relações já não tão boas entre Taiwan e China, e até acelerar planos chineses de invadir a ilha.
Horas antes do começo da votação, a China fez ameaças abertas aos políticos a favor da independência de Taiwan: o governo chinês afirmou que vai tomar todas as ações para “esmagar” qualquer plano de independência e que isso não é compatível com a paz.
Sem aliados
Nenhum dos partidos que concorrem é aliado chinês — e o atual grupo que comanda Taiwan, favorito nas pesquisas, é hoje o maior inimigo.
Os principais partidos são os seguintes:
Partido Democrático Progressista (PDP), o atual grupo que ocupa o poder e favorito em 2024. O candidato deles é Lai Ching-te, vice-presidente da atual presidente, Tsai Ing-wen.
Kuomintang (KMT), um partido historicamente inimigo dos chineses, mas que, hoje, são os preferidos do governo de Xi Jinping. O candidato deles é Hou Yu-ih.
A principal diferença entre os dois é que o PDP é independentista, ou seja, quer acabar de vez com qualquer pretensão de uma unificação com a China.
Já o KMT considera que Taiwan e China são um país só, mas que o regime chinês não tem legitimidade para governar.
Guerra civil
Na primeira metade do século 20, houve uma guerra civil na China. Os comunistas, liderados por Mao Tse Tung, foram os vencedores. Os derrotados foram justamente para Taiwan. Durante anos, tanto o lado chinês com o de Taiwan diziam que tinham legitimidade para governar a China inteira (tanto a continental como a ilha).
Até hoje, o nome oficial de Taiwan é República da China; o nome oficial da China continental é República Popular da China.
O KMT é o partido que perdeu a guerra civil para o Partido Comunista em 1949.
Eleições ferrenhas
Professor doutor da Universidade de São Paulo, Yi Shin Tang afirma que em Taiwan o governo é muito centralizado e que a votação para presidente alimenta muitas paixões. “As campanhas são ferrenhas, os interesses são grandes e há duas superpotências interessadas no resultado: os Estados Unidos e, especialmente, a China”.
Xi Jinping, o líder da China já fez algumas ameaças veladas contundentes de como pode haver desfechos diferentes de acordo com o resultado da votação, segundo o professor Tang.
Recentemente os chineses aumentaram a quantidade de exercícios militares ao redor da ilha de Taiwan e enviaram balões para sobrevoar o território.
Em um discurso de fim de ano, Xi Jinping disse que “a China certamente será reunificada”.
“O resultado (da votação em Taiwan) é muito importante para o Xi Jinping, porque é uma questão de sobrevivência política dele: ele transformou a pauta de Taiwan em uma espécie de espantalho para não discutir publicamente os problemas da China, como o menor crescimento econômico dos últimos anos”, diz Tang.
“A ideia de a China incorporar Taiwan de forma pacífica é cada vez menos provável. Os taiwaneses estão cada vez mais felizes com seu próprio sistema”, afirma o professor da USP.
De acordo com a agência de notícias Reuters, o governo da China detesta o candidato do PDP, Lai Ching-te, e já recusou diversas propostas de encontro para conversas com ele. O governo da China tem falado das eleições como uma escolha entre paz e guerra, diz que o partido que pode ser reeleito é de separatistas perigosos e pede para que os eleitores de Taiwan façam “a escolha certa”.
O governo de Taiwan diz que a China tem promovido uma campanha de desinformação na internet a favor de candidatos favoráveis à China continental. Os chineses respondem dizendo que as alegações do PDP são “truques sujos”.
Público de Taiwan quer independência
Yi Shin Tang, o professor da USP, diz que a maioria dos cidadãos de Taiwan hoje é favorável à independência e a um afastamento da China. “O próprio KMT hoje não fala mais tanto em integração, eles são mais ambíguos, dizem que Taiwan precisa se aproximar (da China), mas sem falar em China única, e o o PDP é mais contundente”, diz ele.
Há outras questões em jogo, principalmente temas econômicos, o custo de vida em Taiwan e a vulnerabilidade externa do ponto de vista de recursos naturais, segundo ele.
Pesquisas eleitorais
Há ainda um terceiro partido, o Partido Popular de Taiwan (PPT), do candidato Ko Wen-je. Eles têm uma proposta de terceira via moderada entre o KMT e o PDP.
A legislação do pais não permite que pesquisas sejam divulgadas nos dez dias anteriores à votação. No dia 3 de janeiro, as pesquisas davam os seguintes números:
PDP (partido independentista): 36%
KMT (partido favorável a manter boas relações com a China): 31%
PPT (partido de centro): 24%
EUA: ambiguidade estratégica
Os EUA têm uma política de ambiguidade estratégica em relação à Taiwan. Logo após a revolução chinesa de 1949, os EUA reconheceram o KMT como o governo legítimo da China. No entanto, em 1975, isso mudou. Os EUA passaram a reconhecer a China e, oficialmente, não veem Taiwan como nação, mas mesmo assim apoiam a ilha militarmente.
Para Taiwan, a situação política nos EUA não é favorável, segundo Tang.
Joe Biden, o atual presidente, tem tido dificuldade para conseguir apoio para Israel, e também teria problemas para ajudar militarmente Taiwan no caso de uma invasão. Donald Trump, o candidato do Partido Republicano mais bem colocado nas pesquisas, já verbalizou que não pretende intervir –o que, diz Tang, seria uma carta branca para Xi Jinping agir.
Nas análises sobre a situação de Taiwan, fala-se muito sobre China e EUA, mas além desses dois há um terceiro país que vai estar especialmente atento, o Japão.
Taiwan foi um protetorado do Japão durante décadas, e as ilhas são próximas. Para Tang, o Japão não teria como auxiliar militarmente, mas pode atuar diplomaticamente para chamar atenção para a questão da ilha.
Imagem da véspera das eleições em Taiwan
Carlos Garcia Rawlins/Reuters
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